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Matera Explica: Moeda Digital (CBDC) | Highlights 

As novidades do mercado financeiro não passam batidas por aqui, e um dos temas que vem despertando a curiosidade das instituições e da população tem sido a criação do Real Digital. Aproveitando esse momento de diversas dúvidas, promovemos o webinar Matera Explica: Moeda Digital (CBDC), para situar todos no assunto. 

O projeto do Banco Central para a criação da CBDC (Central Bank Digital Currency) brasileira está só no começo, sendo que o novo meio de pagamento estará em circulação por volta de 2024. As diretrizes gerais foram publicadas em maio de 2021, e os primeiros passos já estão sendo dados.

Nosso evento contou com as participações especiais do Fabio Araujo, um dos responsáveis pela iniciativa no Banco Central, e do Ivan Habe, Líder Latam de Pagamentos da EY, que fez uma apresentação introdutória explicando o conceito de ativos digitais, que vêm ganhando cada vez mais força nos últimos 15 anos. Eles estiveram ao lado do Carlos Netto, CEO da Matera, no bate-papo. Quem fez a mediação da conversa foi o Bruno Samora, Gerente de Produtos da Matera.

Tivemos muitas informações esclarecedoras sobre o Real Digital vindas diretamente do BC ao longo de todo webinar. Para você ficar por dentro, separamos os highlights!

Mais controle e centralização

Os criptoativos e as finanças descentralizadas estão ganhando cada vez mais popularidade no mundo. Se os Bancos Centrais não oferecerem um ambiente onde esses serviços possam ser prestados de forma segura, vamos acabar perdendo um pouco o controle desse mercado, que é importante para as missões do Banco Central - tanto em termos de manutenção da estabilidade financeira quanto em relação à manutenção da estabilidade de preços e o consequente bem-estar da população.

Papel do BC I

A intenção não é romper os relacionamentos bancários que as pessoas têm hoje, mas ampliar e trazer mais participantes para o mercado, para que a gente possa oferecer serviços que sejam mais adequados às necessidades dos consumidores. O BC não pretende oferecer contas PF/PJ para a população. O que teremos é um espelho, onde será possível ver, através das instituições que são custodiantes, as informações desse passivo direto do BC com as pessoas, que será a CBDC. 

Papel do BC II

Com o Real Digital, além de saber quanto as instituições estão custodiando, vamos saber quanto cada pessoa está custodiando e, dependendo de como seja a rastreabilidade e tecnologia, poderemos acompanhar transação por transação, o que contribui com o combate à lavagem de dinheiro, mas mantendo um grau de privacidade para as pessoas. O BC não tem a vocação natural de controle de informação de clientes - o Know Your Client (KYC) continuará com as instituições privadas e é essencial para a estabilidade do sistema e confiança das pessoas. Todas as transações serão feitas pelo sistema bancário.

Moeda eletrônica x Moeda digital

O que temos hoje se assemelha muito ao conceito de CBDC sintética, uma moeda eletrônica, que é o que as IPs operam, associada ao sistema de pagamentos que já temos funcionando. A emissão é de responsabilidade dos agentes privados, com lastro total em Real. A diferença básica é que, no caso da CBDC que estamos pensando, a emissão é do BC. Hoje o dinheiro eletrônico é emitido pelas instituições , que fazem o lastro no BC, em uma conta da instituição - não temos informações sobre o cliente final. 

Tecnologia

A discussão sobre a tecnologia que será utilizada na moeda digital ainda não está fechada. O blockchain é uma opção muito interessante e traz diversas possibilidades, principalmente em questões de smart contracts, que são fundamentais no nosso projeto.

Paridade

Reconhecemos que o Real que temos hoje e o Real Digital são dois ativos diferentes, que têm naturezas diferentes e vão prestar serviços diferentes. Esperamos que o Digital seja mais utilizado nas liquidações digitais, e pode haver uma tendência de descolamento da paridade em relação ao Real tradicional. Um dos pontos centrais do desenho de uma CBDC é a paridade garantida com a moeda fiduciária. Como o BC é emissor das duas, temos mecanismos muito mais eficientes do que, por exemplo, alguma instituição que esteja gerenciando uma stablecoin para garantir essa paridade.

Pagamentos transfronteiriços

Estamos em um momento no qual há uma coordenação entre os Bancos Centrais do mundo em relação ao desenvolvimento de CBDCs e transferências cross-border. O G20, por exemplo, conta com um roadmap de digitalização das economias de meios de pagamentos transfronteiriços que está sendo tocado pelos agentes internacionais, como FMI e Banco Mundial. Até o momento, o discurso parece estar bem alinhado entre todos os países, de que é muito importante a coordenação para que funcione dentro das fronteiras e possibilite essa integração. Hoje temos eficiência razoável para grandes valores entre empresas, mas para pequenos valores entre pessoas a ineficiência é enorme. 

Complementaridade com Open Banking

O que queremos fazer é trazer as funcionalidades que estão no DeFi (Decentralized Finance) para dentro do sistema. Nesse ponto, o Open Banking é fundamental, por conta da troca de informações entre fintechs e participantes do mercado para que você possa utilizar essas informações nos algoritmos e nos contratos específicos. Com a evolução do Open Banking, onde mais participantes poderão trocar informações e desenhar serviços financeiros que sejam mais adequados às necessidades dos consumidores, o BC imagina que, nesse ambiente digital, será necessário um token de liquidação, e a CBDC seria uma maneira natural de oferecer esse serviço.

Transformação gradual

O BC entende que as moedas que estão disponíveis atualmente para liquidação de operações vão continuar existindo. Vemos que o sistema financeiro convencional tem muito poder de criação de crédito, organização da movimentação de fundos, e isso não vai desaparecer dentro de uma década. Daqui a 10 anos, os maiores bancos muito provavelmente continuarão sendo os maiores bancos. No entanto, vai haver espaço para a entrada de novos provedores de serviços de uma maneira mais fragmentada, onde a gestão do fluxo de recursos não precisará ser tão verticalizada. Haverá uma participação e uma digitalização maiores. Nas próximas décadas, vemos uma convivência dos vários tipos de moeda disponíveis para pessoas. O depósito bancário continuará sendo importante, o Real Digital vai ganhar importância e o Real físico vai continuar sendo importante enquanto a questão da inclusão digital não for totalmente resolvida.

Influência no multiplicador bancário

O CBDC reduz a base de atuação do multiplicador bancário, é como se fosse um depósito 100% compulsório. As IPs funcionam dessa forma, mas não afetaram o mercado de maneira tão significativa nessa questão. Esse é o principal indicativo de que a evolução ocorrerá de maneira natural. Não teremos uma corrida por CBDC - à medida que a sociedade se digitalizar, haverá mais demanda por CBDC e nesse meio tempo o fluxo de fundos na economia deve se reorganizar, então esperamos que não haja efeito negativo sobre o crédito. 

Agenda 2021

Ao longo do segundo semestre de 2021, além da nossa newsletter, teremos uma série de webinars, de julho a novembro, para discutir pontos relevantes na implantação do Real Digital. Serão ao todo 7 encontros, que também vão levantar os casos de uso que a sociedade tem para o Real Digital e validar com a população a consistência interna das nossas diretrizes, se proporcionarão um ambiente adequado para o desenvolvimento da CBDC dentro das mesmas. 

Médio e longo prazos

A fase seguinte do projeto é a Prova de Conceito, que contará com a participação dos stakeholders, para que possamos testar a compatibilidade de sistemas e fazer uma análise de quais seriam as melhores tecnologias para essa implantação. Essa etapa deve durar cerca de 1 ano.  Em seguida, teremos a fase de pilotos, onde poderemos trazer a sociedade para interagir em ambientes mais controlados, mas com operações reais, para vermos como as pessoas se relacionam com esse novo meio de pagamento e a quais tipos de serviço elas darão preferência. Dessa forma, poderemos medir a demanda e como vamos controlar de maneira mais efetiva esse mercado. Temos um horizonte de 2-3 anos pela frente, no mínimo, para cumprir esses passos e chegar às condições necessárias para ter uma CBDC que seja útil para a sociedade.

Quer saber mais sobre o Real Digital? Clique aqui e confira o último episódio do nosso podcast para aprenda mais sobre essa grande novidade que já está movimentando o mercado brasileiro!

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